sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Aposentadoria - Patativa do Assaré

Aposentadoria do Mané do Riachão


Patativa do Assaré



Se moço, fique ciente

de tudo que eu vou contar,

sou um pobre pinitente

nasci no dia do azá,

por capricho eu vim ao mundo

perto de um riacho fundo

no mais feio grutião

e como alí fui nascido,

fiquei sendo conhecido

por Mané do Riachão



Passei a vida penando

no mais crué padicê,

como tratô trabaiando

pro filizardo comê,

a minha sorte é trucida,

pra miorá minha vida

já rezei e fiz promessa,

mas isto tudo é tolice,

uma cigana me disse

que eu nasci foi de trevessa



Sofrendo grande cancêra

virei bola de biá

trabaiando na carrêra

daquí, pra alí e pra aculá,

fui um eterno criado

sempre fazendo mandado

ajudando aos home rico,

eu andei de grau em grau

taliquá o pica pau

caçando broca em angico



Sempre entrando pelo cano

e sem podê trabaiá,

com secenta e sete ano

precurei me apusentá,

fui batê lá no escritoro

depois eu fui no cartoro,

porém de nada valeu,

veja o que foi, cidadão,

que aquele tabelião

achou de falá pra eu



Me disse aquele iscrivão

frangindo o côro da testa:

- seu Mané do Riachão,

este seus papé não presta,

isto aqui não vale nada,

quem fez esta papelada

era um cara vagabundo,

pra fazê seu apusento

tem que trazê documento

lá do começo do mundo



E me disse que só dava

pra fazê meu apusento

com coisa que eu só achava

no Antigo Testamento,

eu que tava prazentêro

mode recebê dinhêro,

me disse aquele iscrivão

que precizava dos nome

e também dos subrinome

de Eva e seu marido Adão



E além da indentidade

de Eva e seu marido Adão

nome da niversidade

onde estudou Salomão

com outras coisa custoza

bem custoza e cabuloza

que neste mundo revelá

a Escritura Sagrada,

quatro dente da quêxada

que Sanssão brigou com ela



Com manobra e mais manobra

pra puder me aposentá,

levá o nome da cobra

que mandou Eva pecá

e além de tanto fuxico,

o rigistro e o currico

de Nabuco Donozô,

dizê onde ele morreu,

onde foi que ele nasceu

e onde se batizô



Veja moço, que novela,

veja que grande caipora

e a pió de todas ela

o sinhô vai vê agora,

para que eu me apusentasse,

disse que também levasse

terra de cada cratéra

dos vulcão dos istrangeiro

e o nome do vaquêro

que amançou a Besta Fera



Iscutei achando ruim

com a paciência fraca

e ele oiando pra mim

com os óio de jararaca

disse: a coisa aqui é braba

preciza que você saba

que eu aqui sou o iscrivão,

ou estas coisa apresenta,

ou você não se apusenta,

Seu Mané do Riaçhão



Veja moço, o grande horró

sei que vou morrê dipressa,

bem que a cigana falou

que eu nasci foi de trevessa,

cheio de necessidade

vou vivê de caridade,

uma ismola cidadão!

lhe peço no Santo nome,

não dêxe morrê de fome

o Mané do Riachão.

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